domingo, 27 de setembro de 2009

Rebeldia exposta



Poeta paranaense Paulo Leminski, morto em 1989, ganha extensa mostra em SP que reúne originais, textos inéditos, shows, documentários e peça

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Transcorridos 20 anos da morte de Paulo Leminski, São Paulo abrigará, a partir de 1º de outubro, a maior e mais completa mostra sobre a obra do poeta paranaense que uniu caprichos e relaxos em nome da rebeldia aos sistemas.
A "Ocupação Leminski", no Instituto Itaú Cultural, na avenida Paulista, ironicamente espécie de medula vertebral do capitalismo brasileiro, tentará dar conta das múltiplas faces da produção do "bandido que sabia latim" (título de sua biografia), morto em junho de 1989, aos 44 anos.

Aqui, a reportagem completa, somente para assinantes

OCUPAÇÃO LEMINSKI
Quando: abertura para o público em 1º/10; de ter. a sex., 10h às 21h; sáb., dom. e feriado, 10h às 19h; até 8/11
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149; tel. 0/xx/11/2168-1777 )
Quanto: entrada franca
Classificação: não informada

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

cinza

SP sem sol
É só lida

É solidão

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

economia do desejo

eu somo
você subtrai

eu agrego
você espalha

eu junto
você divide

eu multiplico
você amiúda

eu aplaco
você aplica

eu empenho
você liquida

eu uno
você separa

eu empresto
você toma

eu devo
você nega

eu pago
você rola

eu doo
você vende

eu entrego
você anuncia

eu banco
você bambeia

você some
eu sonho

você critica
eu crio

você chora
eu escuto

você duvida
eu divido

você titubeia
eu assumo

você soma
eu amo

sábado, 5 de setembro de 2009

navegação de cabotinagem



Em 1999, entrevistei Chico Buarque por conta do show "As Cidades", que em julho daquele ano chegaria a Ribeirão Preto, onde eu morava. Durante um bom tempo, guardei o cassete com a conversa, entremeada por boas gargalhadas. Mas foram tantas as mudanças de lá pra cá (e tantas outras fitas) que a gravação se perdeu entre as quinquilharias dos apartamentos ou redações.
Esta entrevista, publicada nos cadernos regionais, ainda não faz parte do acervo digital da Folha disponível na internet, e, por isso, resolvi colocá-la no blog. No texto abaixo, há comentários raros sobre sua relação com o interior de SP e com a família dos ex-jogadores Sócrates e Raí.
Assisti a uma das apresentações no Theatro Pedro 2º, a de sábado, provavelmente. Foi um show memorável, com direito a chope no Pinguim antes e depois.
É como diz a letra de "Xote da Navegação", na internet às vezes a gente "navega pra trás" (...) pela água do rio que é sem fim e é nunca mais". Segue:



JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REDAÇÃO
Tímido incorrigível (se é que timidez precisa de correção), Chico Buarque não vê a hora de terminar seus compromissos da turnê pelos palcos de Jaguariúna e Ribeirão Preto nesta semana para iniciar suas apresentações na “turnê” pelos gramados.
“O melhor momento do show é quando termina e a gente vai jogar uma peladinha”, diz ele, que mostra “As Cidades” terça e quarta em Jaguariúna e sexta e sábado em Ribeirão.

Folha - O show que você apresenta na próxima semana em Jaguariúna e Ribeirão Preto é exatamente o mesmo das turnês paulistana e carioca ou há alterações, principalmente no repertório?
Chico Buarque - É o mesmo show. Além de Rio e São Paulo, inclusive, já andei fazendo outras cidades, como Belo Horizonte, Fortaleza e Recife. Basicamente é a mesma apresentação que viaja o Brasil inteiro.

Folha - Na última vez em que você se apresentou no interior de SP, há uma década, você ainda não era escritor e o Muro de Berlim ainda não havia caído. De que maneira e em que medida esses fatos mudaram sua música, sua obra?
Chico Buarque - O Muro de Berlim não alterou minha obra não, até onde eu saiba. O que alterou minha obra foram esses dez anos de vida. Mas não atribuo essa mudança a nenhuma fato concreto, nem aos livros. Claro que meu trabalho amadureceu em dez anos...

Folha - Mas você não vê uma influência maior da literatura em suas músicas atualmente? No último disco isso é mais claro...
Chico Buarque - Eu acho que de qualquer forma a minha música interfere na minha literatura e vice-versa. São processos de criação diferentes, mas são permeáveis, eu sou o mesmo autor. O que tenho dito e repito é que a experiência literária me acrescenta tanto quanto autor de livros quanto músico. Eu vou me tornando mais exigente, isso reflete até na minha criação musical.

Folha - Você está levando “As Cidades” para duas cidades que você não conhece...
Chico Buarque - Eu conheço, claro, você mesmo disse que há dez anos eu cantei em Campinas....

Folha - Mas Jaguariúna é outra cidade...
Chico Buarque - Ah, eu considerava como sendo Campinas. Pensei que fosse uma espécie de subúrbio. Eu tenho contato bom com o interior de São Paulo porque fiz sete finais de semana em São Paulo. Em alguns feriados, por exemplo, eu sentia o público diferente e me explicavam que era por causa do público do interior que estava na plateia.

Folha - Diferente como?
Chico Buarque - Parecia um pouco mais caloroso que os paulistanos, não que o público da capital também não fosse caloroso, mas nesses dias havia uma vibração diferente. Pelo fato talvez de eu não me apresentar no interior há muito tempo.

Folha - Dessa vez o Sócrates disse que não vai ter para o seu time...
Chico Buarque - Eu acho que ele não está sabendo, mas o Raí está. Nós já fizemos uma composição, nós vamos os três no meio do mesmo time, não tem revanche não (risos). Nós ganhamos de 8 a 2 da família do Sócrates, da família Oliveira, isso é uma vez na vida outra na morte, não vai ter revanche não. O time é um só, é fusão. É o Politheama e Oliveira, vamos fazer o “Politheveira’’ (risos)...

Folha - É verdade que você torcia para o Uchôa [time da pequena cidade de mesmo nome da região de São José do Rio Preto] e o Batatais [time da cidade de mesmo nome da região de Ribeirão Preto]? Você acompanha o futebol do interior de SP?
Chico Buarque - Eu morava em São Paulo e acompanhava muito o Campeonato Paulista e sabia de coisas sobre a divisão de acesso, do começo dos anos 50, Batatais, Uchôa, Linense, eu tinha botões com esses times.

Folha - Voltando ao show, qual o momento que você mais gosta?
Chico Buarque - É quando termina (risos). Eu tenho feito esse show ultimamente com mais prazer até do que no começo, porque já estou mais seguro, mais firme, menos tenso, mas o meu maior prazer ainda é quando termina e a gente vai jogar uma peladinha depois.

Folha - Já existem locais determinados para as peladas?
Chico Buarque - Na região de Campinas deve ser no campo do Toquinho. Em Ribeirão é o pessoal do Sócrates, acho que ele está armando alguma coisa diferente, mas não vai ter revanche não...

Folha - Ele disse que você trapaceou em São Paulo, que o jogo foi depois do show.
Chico Buarque - É porque durante o show tinha uma garrafa de uísque na mesa dele (risos).

(ps: o único registro de shows da turnês "as cidades" que encontrei segue abaixo, ao que parece, feito por fãs. vale apenas como registro.)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

this is love




Era o meu coração que batia disparado, em solos intensos, improvisados, livre, porém preso à certeza de que ela um dia teria de ser minha.
Foi sempre assim, desde a primeira vez que a vi, essa urgência, esse ardor, uma certeza inexplicável e inabalável de que algo maior nos unia. Acho que ela nem se lembra, mas, certa vez, em uma manhã esquisita do início do outono, avistei seu rosto, e ele brilhou para mim, do fundo do salão de beleza _que outro lugar ela poderia habitar?
A delicadeza com que ela cuidava das unhas da madame é indescritível, por isso, vou me abster de narrar esta parte. Mas lembro bem que as belas mãos dela flutuavam no ar como as de uma pianista,e eu ouvia, embriagado, a mais doce das canções do mundo. Agora posso explicar a sentença que sobreveio ao meu juízo naquele instante: eu preciso dançar com essa mulher!
Era o meu coração que batia disparado, em solos intensos, improvisados, livre, porém preso à certeza de que ela um dia teria de ser minha.
Tomei dois tragos de coragem e adentrei aquele templo da cosmética. Como todos estavam entretidos com a funilaria e pintura do dia-a-dia, fiquei parado no meio do salão, esperando que alguém se dirigisse a mim. Um rapaz magro, cabelos vermelhos, brincos nas duas orelhas e voz fina de criança falou:
_O senhor vai cortar o cabelho?
_Não, quero fazer as unhas.
Ele imediatamente saiu gritando “Ô Ritinha, Ritinha, querida, cliente aqui, cliente para você”.
Rita segurou as minhas mãos.
_O senhor está suando!
Era o meu coração que batia disparado, em solos intensos, improvisados, livre, porém preso à certeza de que ela um dia teria de ser minha.
Uma toalha foi providenciada. Mais calmo, sorvi cada instante, cada toque, cada gesto da primeira vez que nossos corpos se conheceram. Ao final do processo, convidei-a para ir comigo ao baile daquela noite. Ela sorriu e disse:
_Um homem com mãos tão macias não deve saber o que é trabalho, mas deve ser bom dançarino.
Adentramos o salão de braços dados. A orquestra tocava um bolero. Enlacei a cintura de Rita e saímos deslizando pelo salão. Ela disse no meu ouvido:
_Um dos músicos está fora do tempo.
Era o meu coração que batia disparado, em solos intensos, improvisados, livre, porém preso à certeza de que ela era minha pra sempre.