terça-feira, 27 de outubro de 2009

os ansiosos agradecem

Ao receber o Prêmio Bravo! ontem, Selton Mello agradeceu à psicanálise e ao Rivotril. Não ganhei nada, mas faço coro com ele.

sábado, 24 de outubro de 2009

romance pós-moderno

O herói sai.
Vive aventuras, volta vitorioso e nunca mais sente o vazio que o assombrava.

O herói fica.
Passa os dias convivendo com um vazio que não consegue preencher.

O herói medita.
Sabe que vive um vazio, mas não consegue compreendê-lo. Decide isolar-se e filosofar a respeito.

O herói se aliena.
Faz de tudo para não viver o vazio que sabe que sente. Pragmático, facilita a existência.

O herói sublima.
Vive as fantasias que cria para não precisar encarar sua realidade vazia.

O herói se deprime.
Bebe o dia todo para anestesiar a angústia que o vazio lhe traz. Quanto mais bebe, mais angustiado fica.

O herói é sádico.
Regorzija-se com o desespero de se saber condenado ao vazio.

O herói crê no futuro.
Intui que o vazio é algo passageiro e que em algum momento compreenderá o sentido de tudo.

O herói é um ingênuo.
Sempre diz que é preciso manter a esperança, que os problemas passam e que tudo ficará bem no final, até mesmo a sensação de vazio.

O herói flerta com a morbidez.
Vive repetindo que a morte é o único sentido da vida, vazia.

O herói é raso.
Gosta mesmo é de comer em frente à TV, ver sacanagem na internet, jogar videogame, gastar em roupas, frequentar lugares badalados e trepar com garotas de programa. Não há vazio na superfície.

O herói caminha pelas ruas vazias.
Fala sozinho, chora no escuro, escreve cartas de amor e diz aos amigos que gosta muito deles.

O herói decide deixar o povoado.
Faz as malas e parte em busca de algo que não sabe o que é, para que ao menos o vazio que o acompanha mude de lugar.

(para Cláudia e João Gabriel de Lima, um texto da Mariana sobre nossas reflexões a respeito do mito do "herói sai, herói vence, herói volta", do romance, de Machado e de Flaubert)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

cruisin'




aquilo tudo foi mesmo incrível.
arremessávamos como Larry Bird:
a gente lá, só "stup, stup, stup",
e as bolas só lá, "chuá, chuá" na cesta.
depois, pulávamos em uma cama elástica,
os cabelos subindo, os cabelos descendo.
exaustos, tomávamos suco de abacaxi bem gelado,
temperado com folhas de hortelã,
uma ducha bem fria, uma brisa bem quente,
e o sol não fazia mal pra ninguém.
eu te contava uma coisa bem boba, baby,
e a gente ria até doer a barriga.
até a barriga roncar, e eu cozinhar
carne assada, arroz e farofa.
barriga que depois ficava pro ar:
olha um camelo, percebe o bico de um pássaro?
e a gente voava, voava,
e a gente cantava,
e a gente dançava,
como se fôssemos Smokey Robinson.