segunda-feira, 22 de junho de 2009

lançamento da ivana

Amigos, espero todos vocês no lançamento do Hotel Novo Mundo,
amanhã na Livraria da Vila, rua Fradique Coutinho, 915.
Depois das 21h30 a festa se transfere para a Mercearia São Pedro, rua Rodésia, 34.
Um beijo
Ivana


quinta-feira, 18 de junho de 2009

divina comédia




revisitado, o inferno de dante não passa de uma profunda sessão de psicanálise

quarta-feira, 17 de junho de 2009

nothing but blue skies




Na hora me lembrei dele, sou daqueles que sempre encontram algo profundo e metafórico nos relatos simples e diretos de Hemingway: eu tentava escalar uma montanha muito alta, fazia frio e, apesar da névoa, sabia que no cume estaria seguro e poderia avistar o horizonte para além das nuvens que me atormentavam.
Minhas mãos escorregavam, quase se desprendiam do costado majestoso da montanha. Mãos lanhadas pelos galhos e pedregulhos, punhos fechados, tentando reter o que ainda restava de sólido nesta vida tão liquefeita.
Num determinado momento, estanquei em um pequeno platô. Suava sob os agasalhos pesados, tirava as botas encharcadas e percebia que os pés também sofriam com as adversidades da escalada. Olhei para cima. Tentei avistar algo além de um palmo na frente do rosto, chacoalhei a névoa como quem espanta um redemoinho de insetos. Mas nada, o futuro era impenetrável e etéreo. O passado, logo abaixo, calmo, conhecido e até sedutor.
Avaliei que não reunia mais condições físicas nem mentais de prosseguir. A única opção seria passar a noite ali, encolhido, torcendo pelo novo dia, por um recalcitrante sol de verão que me ajudasse a retomar a escalada ou a retroceder em segurança. Sabia, no entanto, que a desistência da subida naquele momento trazia atrelada a condenação de morte.
Essa ideia assustou-me. Recoloquei as botas, me pus em pé. A subida se tornaria ainda mais custosa e arriscada. Mas dois, talvez apenas três, metros depois, eu já me encontrava protegido, correndo no cimo verde e perfumado da montanha.
A névoa que não me deixou enxergar quão perto estava do alívio, magicamente se dissipara. Lá no alto, o céu brilhava muito azul e o sol de amanhã tinha chegado antes. O futuro era como o horizonte em um conto de Hemingway, aparentemente simples, misteriosamente metafórico.

(esse Willien Nelson cantando o standard "blue sky" de Irving Berlin é muito bom; no nível da versão da marina lima)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

las nieves del kilimanjaro

É recomendável ir embora de Paris? Não, não creio que seja muito. Para a mulher que acompanha o intrépido Harry em As neves do Kilimanjaro não é nada. Referindo-se à perigosa África na qual penetraram, ela diz a Harry num momento do relato de Hemingway: "Quisera não ter vindo a este lugar, em Paris não teria acontecido nada disso, poderíamos ter ficado lá". Essa mulher, ainda que apenas por seu caráter leviano e porque não lhe agradava nada sair de Paris, me lembrava às vezes Kikí, a única pessoa deste mundo que sei com certeza que quis me assassinar.
As neves do Kilimanjaro é um relato no qual Hemingway nos conta, de forma elíptica, que já vira as orelhas do lobo, que vê um presságio de morte nos cumes nevados dessa orgulhosa montanha, "cujo cimo oeste é chamado pelos masai de A casa de Deus". Hemingway estava convencido de que as neves do Kilimanjaro, que identificava com a morte, eram definitivas, perpétuas. Nós também estivemos convencidos disso até há bem pouco. Em meio a um mundo acelerado em que tudo se transforma, era confortável saber que a morte, como a neve sobre o cume do Kilimanjaro, estaria lá sempre intocável, deliciosamente fria e estável. Sem dúvida, toda essa serena segurança na eternidade da neve desses cumes africanos se desfez há pouco tempo quando soubemos que dentro de vinte anos já não haverá nem rastro delas no Kilimanjaro. Trata-se de uma notícia do século XXI equiparável a outra do XIX, parecida com aquela sobre a morte de Deus que em seu momento difundiu Nietzsche.
Dentro de vinte anos morrerão as neves eternas do Kilimanjaro. Pergunto-me o que teria dito Hemingway se pudesse se inteirar disso que agora sabemos, quero dizer, de que depois de Deus será a Morte quem morrerá. Lembro de Hemingway com sua mulher fotografando na África, com o majestoso Kilimanjaro ao fundo, sua mulher Mary mirando a câmera com uma escopeta. E lembro dele também em outra fotografia africana, junto do grande aventureiro Philip Percival, cuja valentia ele tanto admirava.
"Harry olhou, e tudo o que pôde ver foi o cimo quadrado do Kilimanjaro, amplo como o mundo; gigantesco, alto e incrivelmente branco debaixo do sol. Então soube que era para lá que iria."
Havia em Hemingway uma maneira muito valente e digna de ir em direção à morte, em direção aos cumes nevados. É evidente, contudo, que, no caso de que dentro de vinte anos lhe fosse possível voltar ao mundo, se tornaria impossível voltar a escrever isso de "então soube que era para lá que iria", pois nestes tempos o espaço que deu título ao seu relato, esse lugar de silêncio e imponente clima de altitude ("lá que iria"), ao encontrar-se sem suas neves perpétuas, não será o mesmo lugar, não será a Morte.
Dentro de vinte anos, teremos de ir a Paris em busca de algo mais eterno, dar assim razão a essa mulher do relato de Hemingway que dizia que não era recomendável deixar a cidade. Parece-me que ela, apesar de seu caráter leviano, soube intuir muito bem que Paris, diferentemente das sentenciadas neves do Kilimanjaro, será sempre imortal, nunca terá fim. Por que será que é verdade, senhoras e senhores, que Paris nunca terá fim?



Enrique Vila Matas, em "Paris não tem fim" (ed. Cosac Naify), tradução do Joca Terron

quarta-feira, 10 de junho de 2009

letra e música

o desespero não desmente apuro
até em desenfreado expurgo
ele cuidadosamente me dita
a partitura da música aflita

e eu,ponta-de-lança da raça,
amalgamo em prata palavras
transformo fonemas em árias
tempero de lágrimas a fúria

deixo marinar no céu da boca
a canção rigorosa e certeira
refrão sem par na escalada
verso límpido e gris de toada

quarta-feira, 3 de junho de 2009

summer time and winter time



primeiro frio do ano
fui feliz
se não me engano

paulo leminski

(dois habitués do blog para abrir junho)