quinta-feira, 23 de julho de 2009

armas pra lutar

Contra o pó, a pá e a pedra:
a linha antes do fim da linha
a lauda antes da lápide fria
a palavra antes de caiarem a sina
um poema por dia na luta de todo dia

sexta-feira, 17 de julho de 2009

sexta-feira, 10 de julho de 2009

human nature



e anda e lê livros e acorda e rabisca papel e telefona e toma chá e vê filme e corre e atravessa o sinal e nada e compra chiclete e apaga a luz e acende a luz e toma uma cerveja e escreve poema e lê outro livro e vai almoçar com os colegas e pede perdão e com licença e desculpa e por favor e não encontra as coisas e pega ônibus e come bife à milanesa com espagueti na manteiga e paga mais uma conta e ouve rádio e tem vontade de mandar um monte de gente pra puta que o pariu e lava um prato e liga pros pais e corta um pão e nada e lê um poema e pensa e faz exames e devolve o filme na locadora e trabalha e goza e toma outra cerveja e vai ao banco e paga conta e lê jornal e pega avião e sobe na balança e encontra as coisas que perdeu e ouve música e faz sopa de tomate com manjericão e dorme e passa a mão nos cabelos e tem vontade de comprar um carro e sonha e faz de conta e deixa o dinheiro da faxineira em cima do aparador e as instrução cozinhe feijão em cima da mesa e ouve música e escreve e faz uma lista de compras e passa perfume e tem vontade de mandar um monte de coisas pra puta que o pariu e telefona e goza e pensa que a cidade está entupida de carros e que um dia os carros vão subir pelos prédios e os carros já sobem na calçada e anda e pisa na merda e vai almoçar com os colegas e fica pelado na frente do espelho com o tubo de desodorante na mão e canta eu estou vivo muito vivo in the eletric cinema e chora e trabalha e pensa e esquece onde deixou o boleto bancário e arremessa uma bola de borrocha em uma cesta e goza e acorda para fazer anotações em um bloco e assiste outro filme e lê mais livro e deixa o dinheiro da faxineira em cima do aparador e mede a pressão e dá muitas risadas e ouve rádio e corre e goza

(ps: por volta de 5min de vídeo o miles quase cai e um dos músicos tenta ajudá-lo; ele, é claro, fica puto com o gesto)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

malagueta, perus e bacanaço

(...) Tudo o que tenho feito em minha vida apenas tem me dado noções da minha precariedade. Um sentimento de falência, certo nojo pela condição dos homens e até ternura, às vezes; quase sempre - pena.
Mesmo nas etapas das quais saio vitorioso, nunca se afasta o gosto da frustração. Competir para mim é imoral, portanto: profissional, amorosa, familiarmente, meus acontecimentos não têm me preenchido nada. De transitoriedade e de insuficiência têm-me sido essas coisas do amor, da profissão e da família. A verdade é que não consigo comunicação. Nem o exterior comigo. Eu não aprendo a aceitar nada pela metade. E é este sentimento de culpa que me fica.
Agarrei-me à literatura aos onze anos. Neste amor já houve longos espaços de paixão maluca e houve esmorecimentos explicáveis, que eu, com estes meus arrebatamentos só apronto confusão. E levo tanta aflição por dentro.
Mas é o amor de sempre. E vou caprichando que, afinal, a literatura é a minha única terapêutica. A alquimia literária me esgota. Qualquer página me custa, a mim, que para outras redações tenho facilidade. Escrever é outra dimensão e é única comunicação de verdade com o mundo porque falando com pessoas, eu não me consigo transmitir. E quando tento...
Para reescrever Malagueta, Perus e Bacanaço, empreguei quase dois anos, que não tinha quarto e quase nem casa. Rodei pensões, bibliotecas, apartamentos de amigos, quartos mesquinhos de hotel; enquanto, durante o dia, trabalhava em escritórios de mil coisas para remendar dívidas e empenhos familiares. Aproveitei intervalos, sacrifiquei domingos, mandei amigos andarem, desertei de muitas coisas. Gramei sobre o papel, o livro veio vindo, vindo, veio, está aí.
Mas tenho esperanças. Tenho levado castigos mas tenho esperanças. Um malandro, meu amigo, dizia: "A gente cai, a gente levanta, na queda já se aprendeu. Pode ser que ali na esquina a gente dê uma sorte". Parece-me que tenho uma das mais puras bossas para a malandragem, entre as muitas que vi. Mas nunca vi ninguém com tanta vocação de otário. Logo, minha vida é um trapézio. Mas a minha responsabilidade é grande - eu não tenho rede que amenize as quedas. Para mim, certas fugas não valem. Os porres resolvem o problema do dono do bar. E certos vícios, com autenticidade, são até virtude. Não declinarei número de sapato, nem de colarinho, peso e derivantes porque realmente não sei. Não quero detalhar minhas amizades malandras, que isto não é novela. E tem mais duas propriedades - não sou besta e nem delator. Mas foi lá. Nas beiradas das estações, nos salões do joguinho, nos goles dos botecos, que vi Malagueta, Perus e Bacanaço.

(São Paulo, Boca do Lixo, janeiro de 1963, texto introdutório à terceira edição de Malagueta, Perus e Bacanaço, de João Antonio, colaboração do Fábio Victor)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

vamos deixar por aqui



A falibilidade do filho
O falocentrismo
A falência do pai
O poder da fala
O falocentrismo
A falibilidade da mãe
A falência do filho
O poder da fala
A falibilidade do pai
A falência da mãe
O falocentrismo
O poder da fala
O poder da falha
A palavra
A falha
A fala