terça-feira, 29 de janeiro de 2008

monk, by marçal



"Tínhamos dormido em um mosteiro desativado, em companhia de duas garrafas de vinho. Uma noite sem grilos ou piados de pássaros. Sem lua. Uma noite tão silenciosa que era possível escutar todos os ritmos da respiração dela ao meu lado. Monk tinha morrido dois dias antes. Vimos a notícia na TV cheia de chuviscos de um bar. Erguemos um brinde a ele no mosteiro. Ela comentou: “Sem ele o mundo fica um pouco pior”. Uma noite tão boa e quieta que se Deus resolvesse visitar o mundo naquela hora, certamente andaria na ponta dos pés.

(...)

Tempos depois, numa casa de campo muito limpa e arrumada, ideal para começar algo e não para terminar, eu me lembrei desse episódio. Falei do mosteiro, do jipe, do velho e do menino. Ela mexeu as sobrancelhas como se quisesse sublinhar um sorriso irônico: 'Isso nunca aconteceu comigo. Deve ter sido com outra'.

(...)

Às vezes eu a vejo na televisão. Como acabou de acontecer agora, num quarto de hotel cheirando a pinho, mas que é sujo, como são sujos todos os hotéis que se propõem a cheirar a pinho.

Na televisão, ela não me pareceu tão alegre. Mas pode ser que fosse o script de sua personagem. Ou não _ e talvez ela estivesse mesmo meio triste. Como a maioria das pessoas. Como o resto da vida sem Monk."

(trecho de "Monk", de Marçal Aquino, conto do livro "Geração 90 - Manuscritos de Computador"/Boitempo Editorial)

4 comentários:

.leticia santinon disse...

Cheguei ao seu blog através do blog da Ivana. Muito bom. Continue postando, pretendo voltar mais vezes.

Isa disse...

Acho que vou criar outro blog: minha vida sem cigarro. Vai dar muito pano pra manga... beijos

beto bombig disse...

Lê,

seu blog também é muito legal. Peguei o documentário do Araraguaia no finalzinho. Fiquei com vontade de ver.

Isa,

dou a maior força para o novo blog e para você continuar sem fumar. Please, mostre meu blog aí para o companheiros do Estadão.

bjos

Joca Reiners Terron disse...

marshall quinn, que completou bodas de ouro consigo mesmo no último dia 28 de janeiro… longa vida ao matador!