Andou pelas ruas com
uma única frase na cabeça:
O outono se esvai,
o inverno impõem-se.
Achava-a bonita, dramática,
o melhor que já havia criado.
Na verdade, a coisa única,
de uma vida dedicada à poesia.
Mas tinha certeza de que o resto,
tudo, assim, súbito, viria.
Bastaria andar e pensar,
como um outro, de bigode, dizia.
O suor na testa ao atingir
o bico róseo de um morro.
Os becos úmidos e apertados,
o rebolo dos pelos das árvores.
No leito de uma rua,
o ventre de uma praça.
Ele corria a cidade-mulher
com a bengala de um cego.
Mas é claro:
o inverno que se impunha,
chegou de fato.
Uma chuva de granizo,
já as costas lhe doía.
Fraco, cansado,
sem sombra da mulher-guia,
apanhou uma tremenda pneumonia.
Morreu dias depois,
feliz pela certeza de que,
enfim,
era um poeta do Spleen.
Um ultra-romântico,
desses,
que não precisa escrever versos.
sábado, 21 de junho de 2008
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