O herói sai.
Vive aventuras, volta vitorioso e nunca mais sente o vazio que o assombrava.
O herói fica.
Passa os dias convivendo com um vazio que não consegue preencher.
O herói medita.
Sabe que vive um vazio, mas não consegue compreendê-lo. Decide isolar-se e filosofar a respeito.
O herói se aliena.
Faz de tudo para não viver o vazio que sabe que sente. Pragmático, facilita a existência.
O herói sublima.
Vive as fantasias que cria para não precisar encarar sua realidade vazia.
O herói se deprime.
Bebe o dia todo para anestesiar a angústia que o vazio lhe traz. Quanto mais bebe, mais angustiado fica.
O herói é sádico.
Regorzija-se com o desespero de se saber condenado ao vazio.
O herói crê no futuro.
Intui que o vazio é algo passageiro e que em algum momento compreenderá o sentido de tudo.
O herói é um ingênuo.
Sempre diz que é preciso manter a esperança, que os problemas passam e que tudo ficará bem no final, até mesmo a sensação de vazio.
O herói flerta com a morbidez.
Vive repetindo que a morte é o único sentido da vida, vazia.
O herói é raso.
Gosta mesmo é de comer em frente à TV, ver sacanagem na internet, jogar videogame, gastar em roupas, frequentar lugares badalados e trepar com garotas de programa. Não há vazio na superfície.
O herói caminha pelas ruas vazias.
Fala sozinho, chora no escuro, escreve cartas de amor e diz aos amigos que gosta muito deles.
O herói decide deixar o povoado.
Faz as malas e parte em busca de algo que não sabe o que é, para que ao menos o vazio que o acompanha mude de lugar.
(para Cláudia e João Gabriel de Lima, um texto da Mariana sobre nossas reflexões a respeito do mito do "herói sai, herói vence, herói volta", do romance, de Machado e de Flaubert)
sábado, 24 de outubro de 2009
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2 comentários:
Puta texto!
Putz, muito legal! Bem melhor que o nosso bate-papo. Abraço!
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