Caro,
conforme você me sugeriu em nosso último contato, tenho procurado deixar de lado as angústias de sempre para refletir com mais clareza sobre a tal linguagem artística. Hoje mesmo, enquanto almoçava, indagava a respeito de uma suposta sublinguagem culinária, tão em voga ultimamente. Não fosse a fome, juro, nem teria desmanchado aquela combinação de signos, digo, de alimentos, tão perfeita: o feijão marrom, o branquíssimo arroz, duas verdes folhas de alface, ornamentadas com rubras rodelas de tomate e anéis roxos de cebola. E isso servia apenas como acompanhamento aos pequenos pedaços de carne alaranjados, forrados pelo louro e banhados pelas gostas de pimenta rosa. Em cima de tudo, um reluzente ovo estalado. Iuminado pelos raios de sol refletidos na garrafa verde de tubaína, a composição era uma perfeita obra, fiquei com dó de destruí-la, juro.
Mas, por sorte, me lembrei de suas orientações. A arte é algo que se encerra em si, você me ensinou. Já o prato estava ali para ser devorado, tinha a função de matar minha fome. Então, avancei sobre ele amassando, misturando, rasgando. Acho que finalmente aprendi: arte, de verdade, não enche barriga, não é isso? Bendita seja a coisa desprovida de conceito.
Sem mais para o momento,
saudações cordiais
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
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2 comentários:
Mas a arte enche a alma...beijos
www.drikaflor.zip.net
Bela observação!
Obrigado pela visita.
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