sexta-feira, 4 de setembro de 2009

this is love




Era o meu coração que batia disparado, em solos intensos, improvisados, livre, porém preso à certeza de que ela um dia teria de ser minha.
Foi sempre assim, desde a primeira vez que a vi, essa urgência, esse ardor, uma certeza inexplicável e inabalável de que algo maior nos unia. Acho que ela nem se lembra, mas, certa vez, em uma manhã esquisita do início do outono, avistei seu rosto, e ele brilhou para mim, do fundo do salão de beleza _que outro lugar ela poderia habitar?
A delicadeza com que ela cuidava das unhas da madame é indescritível, por isso, vou me abster de narrar esta parte. Mas lembro bem que as belas mãos dela flutuavam no ar como as de uma pianista,e eu ouvia, embriagado, a mais doce das canções do mundo. Agora posso explicar a sentença que sobreveio ao meu juízo naquele instante: eu preciso dançar com essa mulher!
Era o meu coração que batia disparado, em solos intensos, improvisados, livre, porém preso à certeza de que ela um dia teria de ser minha.
Tomei dois tragos de coragem e adentrei aquele templo da cosmética. Como todos estavam entretidos com a funilaria e pintura do dia-a-dia, fiquei parado no meio do salão, esperando que alguém se dirigisse a mim. Um rapaz magro, cabelos vermelhos, brincos nas duas orelhas e voz fina de criança falou:
_O senhor vai cortar o cabelho?
_Não, quero fazer as unhas.
Ele imediatamente saiu gritando “Ô Ritinha, Ritinha, querida, cliente aqui, cliente para você”.
Rita segurou as minhas mãos.
_O senhor está suando!
Era o meu coração que batia disparado, em solos intensos, improvisados, livre, porém preso à certeza de que ela um dia teria de ser minha.
Uma toalha foi providenciada. Mais calmo, sorvi cada instante, cada toque, cada gesto da primeira vez que nossos corpos se conheceram. Ao final do processo, convidei-a para ir comigo ao baile daquela noite. Ela sorriu e disse:
_Um homem com mãos tão macias não deve saber o que é trabalho, mas deve ser bom dançarino.
Adentramos o salão de braços dados. A orquestra tocava um bolero. Enlacei a cintura de Rita e saímos deslizando pelo salão. Ela disse no meu ouvido:
_Um dos músicos está fora do tempo.
Era o meu coração que batia disparado, em solos intensos, improvisados, livre, porém preso à certeza de que ela era minha pra sempre.

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