quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

purificções/um dia, em 54

Aos olhos ardidos de William, Chicago parecia mais estranha do que de costume. Ele nunca gostara da cidade, fato sabido. Mas, naquele dia, os irritantes arranha-céus lhe incomodavam mais do que de costume. Além disso, havia algo de selvagem, desafiador e reluzente na vista da janela a embaralhar sua capacidade de compreensão na manhã ressaquenta.
_Wherever. Para um fazendeiro, todas as cidades são indecifráveis. Assim como as mulheres. Definitivamente, preciso de um dry martini_, murmurou Bill, entre um cigarro e outro, debruçado no parapeito.
Melhor do que contemplar cidades era voltar a sofrer por sua filha Jill, que se casaria em poucos dias com um sujeito ordinário do Mississipi. Bill caminhou até o pequeno bar do quarto e vasculhou rótulos de garrafas, dispostas sobre o carrinho. Encontrou o vermute, mas não o gim. Quase chamou a camareira do Esplanada. Em vez disso, preparou o drinque com um líquido incolor desconhecido, perfumado de cana e carvalho.
_Bebida de fazendeiros_, gritou, ainda de ceroulas no meio do quarto.
Só quando se deu conta de que acabara de inventar o primeiro dry martini de cachaça do mundo ele cunhou a frase que se tornaria famosa:
_Com um dry martini eu me sinto mais forte, mais inteligente e mais alto. Com dois, sou superlativo. Após o terceiro, nada pode me deter.
William estava pronto.

Um comentário:

Isa disse...

Gostei muito deste post! beijos