sexta-feira, 17 de outubro de 2008

eu queria ser xico sá



ps: este post não vale ser lido sem ser ouvido.

Por Xico Sá:

EU QUERIA SER BILL MURRAY


Eu queria ser Bill Murray. Em Flores Partidas, assim mesmo, broken flowers, do Jim Jarmusch. Indo em busca do filho que talvez não tenha tido. Bill Murray parado. Não diga que silêncio; diga “não ouço nada”. Bill Murray on the road, no sossego, na moral e na elipse. A máquina de escrever cor de rosa, a motocicleta cor de rosa, flor de obsessão, rosa. Bill Murray d.Juan em fim de feira _a festa acabou, José, para onde?_ e a carta anônima, o vizinho Sherlock com ácido, a busca do rebento que não teve, teve?, não importa. Eu queria ser Bill Murray diante daquele gato, nem carecia a Sharon Stone, o gato feito à imagem e semelhança de Bill Murray, felino metafísico da porra. Ali, dizendo, o gato: “Você veio aqui, velho Bill, com segundas intenções, não, não sou teu filho, hombre”. Eu queria ser Bill Murray naqueles sonhos, a reprise. A lolita na vitrine, Lola, bundinha americana, mas safada, é o que vale. Bill Murray vaga pela América, ô, mas num me venha com essa de metáfora da América, apenas uma história sem final, como todo enredo de busca, como a própria cara de Bill Murray, procura. Eu queria ser Bill Murray emparedado na quarta parede, sem foco, boiando nos teus lindos olhos de cigana oblíqua. E basta.

(publicado no Carapuceiro em novembro de 2005)

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