segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

férias na piscina

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

purificções/dry martini

Enquanto tomam o banho morno, o rádio embutido no criado-mudo toca sambas dos anos 40. Um com a história de um sujeito que fica louco e anda pelas ruas porque a mulher amada é o mundo dele. Outro sobre um bonde que leva gente honesta para o trabalho, bem apropriado para o horário. Ele caminha até o aparelho antigo e imagina estar diante da verdadeira máquina do tempo. Mas, em seguida, vai até a janela e espia as pessoas apressadas na calçada, aprisionadas nos carros, enrugadas sob as marquises. Dá um sorriso e diz:
_Que merda estou fazendo em Chicago? Eu odeio Chicago.
_Como é?
_Em 1954, quando o escritor William Faulkner veio a São Paulo, chegou completamente de porre em um domingo à tarde. Na manhã seguinte, novamente embriagado, olhou o viaduto do Chá e pensou que estivesse em Chicago.
Como sempre acontece nessas horas, ela sorri.
_Vou anotá-la_, diz, e emenda:
_Quanto a você, é melhor mudar os critérios de escolha dos hotéis onde mora. Quem sabe não consegue se livrar desses fantasmas de escritores, músicos de jazz e dry martinis.
O homem quase diz que o Esplanada não existe mais como hotel, virou a sede de uma grande empresa. Pensa perguntar “e nós?”. Desiste. A reposta seria “nós sempre teremos o Rio”.
_Vê se cuida_, despede-se ela, batendo a porta.
Ele sabe que a mulher foi embora irritada por não ter podido parafrasear Humphrey Bogart naquela cena final.
_Em uma hora como esta, após ter perdido Ingrid Bergman, Bogart chamaria o capitão e Renault e tomaria mais um dry martini_, diz ele, enquanto olha novamente o centro, o musgo verde e dourado das torneiras do hotel escorrendo sobre a cidade.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

purificções/um dia, em 54

Aos olhos ardidos de William, Chicago parecia mais estranha do que de costume. Ele nunca gostara da cidade, fato sabido. Mas, naquele dia, os irritantes arranha-céus lhe incomodavam mais do que de costume. Além disso, havia algo de selvagem, desafiador e reluzente na vista da janela a embaralhar sua capacidade de compreensão na manhã ressaquenta.
_Wherever. Para um fazendeiro, todas as cidades são indecifráveis. Assim como as mulheres. Definitivamente, preciso de um dry martini_, murmurou Bill, entre um cigarro e outro, debruçado no parapeito.
Melhor do que contemplar cidades era voltar a sofrer por sua filha Jill, que se casaria em poucos dias com um sujeito ordinário do Mississipi. Bill caminhou até o pequeno bar do quarto e vasculhou rótulos de garrafas, dispostas sobre o carrinho. Encontrou o vermute, mas não o gim. Quase chamou a camareira do Esplanada. Em vez disso, preparou o drinque com um líquido incolor desconhecido, perfumado de cana e carvalho.
_Bebida de fazendeiros_, gritou, ainda de ceroulas no meio do quarto.
Só quando se deu conta de que acabara de inventar o primeiro dry martini de cachaça do mundo ele cunhou a frase que se tornaria famosa:
_Com um dry martini eu me sinto mais forte, mais inteligente e mais alto. Com dois, sou superlativo. Após o terceiro, nada pode me deter.
William estava pronto.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

purificções/inventário

Revirando os bolsos do casaco, ele (ou ela?) encontra um guardanapo de papel, sujo de molho shoyo. Aos rabiscos:
Declaração dos bens do casal. Todos abstratos
1- Poesias do Paulo Leminski
2- O Autumn Rhythm (Number 30) do Pollock
3- Uma noite de dry martinis; tardes de vinho tinto
4- Palmeiras Selvagens (do Faulkner)
5- You Don´t Know What Love Is (com o Coltrane Quartet)
6- O morro Dois Irmãos despindo-se de nuvens em uma tarde no Leblon
7- Meia dúzia de poemas que nunca serão publicados
8- Uma história que dá um conto
Não seria uma separação amigável.

ps: trecho de um conto escrito em 2004

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

nacionalismo, poesia e religião

-Giorgio Bombig, professor, administrador da cidade (prefeito), senador do reino (Nasceu em 1852 em Ruda – 2941 habitantes – Provincia de Udine e morreu em Gorizia – 41.557 habitantes – Provincia de Gorizia, em 1939, com 87 anos) ambas as cidades estão na Região do Friuli.

Expoente do liberal-nacionalismo, foi prefeito de Gorizia de 1908 a 1915 e de 1918 a 1922 e de 1924 a 1934 e senador.

Assim se expressa a seu respeito, na ocasião da sua morte, a revista da Sociedade Filologica Friulana “Ce fastu?”(termos do dialeto e lingua friulana – apesar de descendente não o conheço). Foi um ardente patriota italiano, membro de todas as associações irredentisticas (segundo Aurelio – 1 – foi um movimento italiano de reivindicação, após 1870, dos territórios que tinham permanecido como possessões austríacas ou então – 2 – Politica de libertar de poder estranho, povos da mesma raça). Junto com o grupo de velhos e jovens liberais nacionalistas guia a longa e multiforme luta das cidades pequenas contra as pressões oficiais, contra os eslavos invasores, contra os (faiduttiani) vingadores, os mais recentes instrumentos do governo de Viena (Império Austro – Hungaro), os quais, ostentando nas campanhas isontinas (região do Friuli) uma equivocada bandeira friulana, mais insidiosamente (perfidamente) hostilizando a afirmação da bandeira nacional; e de batalha em batalha leva Gorizia solidamente apertada em torno a bandeira da Italia até a vigilia da guerra (1914 / 1918).

Consultas: C.L. Bozzi, Os oitenta anos do senador Bombig (1933) – Os homens do Friuli B.G. Avanti cul brun! (1960) (dialeto friulano) C. Medeot, Os catolicos no Friuli oriental nos primeiros tempos após a guerra, Gorizia 1972.

-Anna Bombig(Ana di Fara) professora, prosadora, poetisa, nasceu em Firenze 1919.

Diplomou-se em Gorizia em 1938 e exerceu a profissão de professora até 1978. De 1964 aos anos 80 dirigiu o coral de vozes brancas (não sei o que é)

Em Farra d’Isonzo (1611 habitantes – Provincia de Gorizia) onde vive, tem exercido diversos encargos publicos. Escreve em italiano e friulano artigos como “Iniciativa I
Isontina” “O Strolic” (palavra friulana) “Sot la nape”, também friulano, “Voz Isontina”.

Bibliografia: Velhas imagens di Farra, Mainizza e Villanova, Farra d’Isonzo 1984; Farra e a sua igrejinha, Farra d’Isonzo 1988. Jogos de uma epoca em Farra e no Friuli goriziano 1989. A. Ciceri, A.B., Farra e a sua igrejinha 1988.

Antonio Bombig – Professor de escola paroquial (nasceu em 1819 e faleceu em 1896 em Farra d’Isonzo) Autodidata, escreveu muitos livros para uso liturgico e de orações para a Paroquia de Farra. São tratados de doutrina em boa linguagem friulana-iontina, traduções de orações do latim ao friulano, traduções dos 10 mandamentos, etc., etc..

Em 1873 constrói um original mapa mundi conservado no museo de Udine.

Cfr. P. Soneda de Marco – O mapa mundi de Farra d’Isonzo “Avanti cul brun 1959”.

Tradução do italiano: Dermeval Ramon. Grazie.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

purificções/esperando mister jobim

_Tu acha que ele vai aparecer hoje?
_Ele quem?
_Cacete, o Tom Jobim, porra!
_Ah, vai, vai. Tu não disse que viu na revista? Então, lá não fala que o coroa vem aqui quase todos os dias? Come, bebe, fuma charuto e até corta cabelo.
_Mas ontem também ficamos parados aqui um tempo e ele não veio.
_Olha só, se ele não pintou ontem, é porque vai pintar hoje, correto? Se o sujeito freqüenta um lugar direto e falta num dia, ele vai no outro, morou?
_Essa tua camisa tá o maior engraçada, né não? Onde é que tu descolou essa merda?
_Ih, que papo besta... Eu alguma vez já comentei das tuas roupas, diz aí? Então, me deixa em paz, porra. Por exemplo, eu poderia achar o maior estranho esse seu lance de Tom Jobim, igual todo mundo tá falando lá no nosso pedaço. Mas não falo, falo? Então, eu fico na minha, tu fica na sua e assim é melhor, né não?
_Vocês são um bando de ignorantes mesmo. O Tom Jobim é um dos caras mais famosos do mundo, até o Frank Sinatra já forçou a barra para ser amigo dele. Manja o Frank Sinatra, não manja? O gringo gravou disco só com música do coroa, o cara é fodão mermão, fodão, tá escrito lá na revista.
_Sei não... Esse teu jeito tá muito esquisito, aposto que tu nem conhece música do Tom Jobim...
_E Garota de Ipanema quem que fez? A tua mãe?
_Ó o respeito, porra!
_Tem também aquela uma do pau e da pedra, saca?
_Deixa queito, deixa quieto... Aí, como é que foi aquela parada lá na casa do bacana?
_Legal, meti gol pra caralho, fiz a alegria do bacana porque ele tava no meu time. Depois, fiquei tomando uísque e comendo amendoim.
_Como é que tu descolou essa bocada?
_Manja aquele maluco baterista que de vez em quando pinta fissurado lá no morro? Então, ele me levou junto. Disse que tinha autorização de sei lá quem para chamar uma galera e completar a pelada. Me apresentou como carregador de equipamento e estudante de música, o que é um pouco verdade. Não ri não, porra! É ou não é, diz aí? Quando eu descolar o meu contrabaixo tu vai ver só.
_Mas e o bacana, qualé a dele?
_O Chico Buarque é o maior gente fina e até que joga direitinho, sobe pra ensaio da escola. A galera falou pra caralho enquanto tomava uísque, menos ele e eu, que não sou mané. Gostei, gostei. Ele é amigo do Tom Jobim e também faz umas músicas maneiras, vi em outra revista.
_Tu tá lendo revista demais lá na Valdete. Tá fazendo a unha também, ô malandro? Daqui a pouco vai estar depilando...
_Não fode, não fode. Eu vou lá no salão de beleza porque tô amarradão nela. Fico como quem não quer nada, lendo uma revista, trocando uma idéia com as freguesas. Mas a mulher tá se fazendo de maior difícil.
_É, mermão, mulher não gosta de homem amiguinho, não, tem que chegar legal, firme, morou?
_E então, tu acha que ele vem?
_Ele quem?
_O Tom, caralho..
_ Sei não, já disse que você, com essa parada, tá esquisito demais. E se ele vier, tu vai fazer o quê? Chupar o pau do velho? Que porra de chatice!
_Vai se fuder! Só quero apertar a mão do cara, dar um abraço, pedir um autógrafo, sei lá, tirar uma foto. É um dos maiores brasileiros vivos, o Tom Jobim.
_Esse velho quase rebaixou a Mangueira no ano passado com aquele enredo de merda que falava dele.
_Aqui ninguém gosta de quem faz sucesso mesmo, o Tom Jobim sempre disse isso, eu li na revista. Brasileiro não gosta de brasileiro, fica todo mundo só querendo pegar no pau de americano viado, usar roupinha de basquete que nem essa tua e comprar os discos dos gringos pra imitar e fazer funk de putaria ou de porrada. Vocês são uns ignorantes mesmo. Eu, não.
_Fotografia de cu é rola, otário. Olha aí mermão, se liga que os gringos tão saindo. Não pode dar merda, entendeu? A gente chega junto, mas sem sangue, sacou? Sem sangue. Vai, fala tu que sabe inglês.
_Good evening mister, isto é um assalto, assalto, morou? I have a gun, here, here, tá vendo? Americano otário. Dá a grana, money, money, se não quiser levar tiro, bullets, bullets, entendeu, understand? Vai, dá essa porra desse relógio! Fast, fast... Ah, filha-da-puta!
_Caralho, malandro! Não falei que era sem sangue, porra? Tu enfiou a coronha na cabeça do gringo, que merda!
_Se liga, fica na sua, faz o seu, faz o seu! Vamo, vamo, pega logo o passaporte e a máquina fotográfica desse puto! Entra no carro, rápido, vamo.
_Caramba, maluco, você arrebentou os cornos do cara, que saco, mermão.
_O gringo tava me olhando de cima, com cara de nojo. Não gosto disso, não gosto de gringo de bosta! Sou brasileiro, com muito orgulho!
_Eu falei que não podia dar merda, eu avisei... Vai sair notícia na televisão e no jornal, vai dar merda.
_Aí, tá vendo? Brasileiro não gosta de sucesso mesmo, quer sempre arrumar um problema. A gente tá com a grana e as paradas dos gringos, não tá? Foram só umas gotas de sangue, porra.
_Sei não, é melhor a gente conversar com o nosso canal lá da agência de turismo e descolar outro ponto pra assaltar, esse sujou. Vai dar merda, vamos mudar de lugar.
_Nem fudendo. Vai que amanhã o Tom Jobim aparece.



Beto Bombig

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

na boca

"Sempre tristíssimas essas cantigas de carnaval
Paixão
Ciúme
Dor daquilo que não se pode dizer

Felizmente existe o álcool na vida
E nos três dias de carnaval éter de lança-perfume
Quem me dera ser como o rapaz desvairado!
O ano passado ele parava diante das mulheres bonitas
E gritava pedindo o esguicho de cloretilo:
-Na boca!Na boca!
Umas davam-lhe as costas com repugnância
Outras porém faziam-lhe a vontade.

Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados

Dorinha meu amor....
Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro:
-Na boca!Na boca!"

Manuel Bandeira