quinta-feira, 19 de junho de 2008

um poema de jim dodge

Traduzido e enviado até mim pelo Joca no ano da graça de 2002.

"Seu sorriso é como assento de privada gelado.
Ele sacode minha mão como se a houvesse encontrado
morta depois de duas semanas num pântano.
Digo a ele que preciso de grana.
Às toneladas.

Eu quero um Lambourgini novo
lotado de absinto e ópio,
cair fora destas colinas encharcadas
uns anos em Paris.
Tento explicar:
estou em tal estágio de desenvolvimento artístico
que necessito de longo período
como marajá reflexivo.

O banqueiro saca minha carteira.
Examina meus dentes.
Reprime seus cacarejos
quando ofereço 20 sonetos miltonianos
como garantia do empréstimo.
Balança a cabeça (passei dos limites)
enquanto me despacha, apertando a mão.

´Péraí`, apelo, ´tenho dívidas e sonhos
não consigo sustar o derrame de meu saldo`.
´Sinto`, resmunga, ´não posso fazer nada`
e grampeia os papéis
de maneira semelhante à que
empalaria minha língua num formigueiro qualquer.
Olho pra ele, incrédulo.

E sob meu olhar fixo
o banqueiro começa a se transformar
numa porção de batatas fritas
empapadas de graxa;
depois num borrão
numa página do Gênesis;
e, afinal, em joaninha rola-bosta
empurrando bolinhas de merda
sobre a escrivaninha maior que meu quarto.
Enquanto acompanho essas mudanças mórbidas
não perco de vista sua cara balofa
brilhando qual carne podre.

Mas eis que suas outras facetas
vêm a mim:
pai, amante, garotão, garotinho -
nossos aparentados, apesar de distintos, corações
e mesma história humana
dando na mesma.
Apenas isto impediu
meu bom-senso de inconscientizá-lo
com uma meia cheia de moedas."

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