sexta-feira, 25 de julho de 2008

bauru não tem fim

Há livros que se intrometem na vida da gente. “Paris não tem fim”, do Vila-Matas, por uma série de razões, meteu o pé na porta da minha. A primeira vez que ouvi falar dele remonta ao início do ano da graça de 2005, quando enviei para o Joca Terron um fragmento de um troço que eu estava escrevendo.

Ele me respondeu com estímulo e disse que naquele momento trabalhava na tradução de uma obra, no caso o “Paris”, que, como eu, também citava o concurso anual de sósias de Ernest Hemingway em Key West. Em maio deste ano, após ter degustado costelas de porco e espinhaço de ovelha na casa do amigo, o Vila-Matas voltou ao centro do assunto, e o Joca me presenteou com um exemplar do livro.

Encontrei muito mais afinidades do que estas entre o livro e minha vida e uma delas me chamou particular atenção, a passagem em que Vila-Matas cita um boxeador que era muito parecido fisicamente com Hemingway e, por conta disso, ele indaga o homem a respeito da semelhança, ao que o sujeito responde: “É que eu sou Ernest Hemingway”.

Em 1990, recém-chegado a Bauru, onde fui muito pobre e feliz cursando jornalismo na UNESP, percebi, solitário na mesa ao lado da minha no Bar do Ô, um sujeito cabeludo, calça jeans, camiseta branca, casaco e botas de couro, cantarolando algo dos Doors. Eu ainda não tinha amigos, fugia dos veteranos para tentar preservar as minhas madeixas, que também alcançavam os ombros naquela época. Me aproximei e perguntei:
_Você gosta do Jim Morrison?
_Eu sou o Jim Morrison _, respondeu o cara que um dia traduziria o trecho quase igual do Vila-Matas.

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