quarta-feira, 23 de julho de 2008

still on the road

Sentei-me na parte traseira do táxi, um carro grande, bancos confortáveis. Ela ia na frente. São raras as mulheres que mesmo sozinhas andam imponentes ao lado do motorista.

Quando fui apanhado estava à beira da avenida, olhando o destino linear dos motores, a brutalidade de suas rodas. Qualquer um pensaria que eu aguardava um carro, um ônibus. Menos ela. Ela sabia o que se passava na minha cabeça naquele dia. Por isso, estava lá, como eu secretamente esperava.

O motorista arrancou, uma câmera viajando pelos prédios, canteiros e pedestres. Ela perguntou sobre mim. Disse que me sentia bem. Quis saber dela.
_Na medida do possível, correndo conforme o planejado_ foi sua resposta.

O trânsito, num capricho divino, estava tranqüilo para aquele horário. Eu queria que estivesse ruim. Não trocamos mais palavras, apenas dois olhares, e eu fiquei observando a nuca dela, o contorno dos ombros, a extensão dos braços nus, suas mãos.

Súbito, seus pelos ficaram mais dourados do que de costume e se eriçaram, da medula até o punho, uma pele retesada. Deve ter sido algum vento atrevido que furou o bloqueio das janelas, mas preferi acreditar que seu corpo desobedecia a sua cabeça e ainda gostava de mim, ainda me queria.
_Pode parar aqui, por favor_, pedi ao motorista.

Desci em um ponto qualquer da enorme cidade. Um moleque pegava latas vazias de cerveja em uma lixeira, a moça passeava com o cachorro. Abri um sorriso. Aquela pele arrepiada era um bom motivo para continuar vivo.

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