domingo, 23 de março de 2008

purificções/desterro 2



depois de ter percorrido todos aqueles pântanos do sul, meu ônibus finalmente aportou na rodoviária de nova orleans, na louisiana, onde eu reiniciaria minha busca pela blue note perfeita, quero dizer, pela zuzana perfeita, ou melhor, quase-perfeita, sei lá, as coisas já estavam ficando muito confusas, malvadas e artificiais. sem reserva e grana para hotel, fui direto à bourboun street, na casa de strip-tease e... bingo! um cartaz trazia fotos de zuza, ou melhor de vicky, em cenas de seu show diário, mostrando os pés ao público e aos caras cheios de tatuagens. mas, como as portas ainda não estavam abertas naquela hora da tarde, resolvi esperar um pouco no bar de blues, com o coração disparado em milhares de blue notes diante da possibilidade de reencontrar zuzana Z desde o nosso último encontro no norte da frança, naquela manhã em que zinedine zidane e charles aznavour cantavam para mim músicas francesas de influência árabe.





ainda do lado de fora do bar comecei a ouvir os sax tenores de lester young, coleman hawks e ben webster e aí veio a voz da billie holliday dizendo que o homem dela não queria saber do seu amor e daquele jazz todo e quando eu vi já estava em frente ao palco. para minha surpresa, a banda era formada por brancos e então eu percebi que até o orgasmo, quero dizer, que até aquele jazz todo, havia se tornado um troço artificial, igual às mulheres de camisetas molhadas, malvadas e polifônicas que assistiam aos longos embates de braço-de-ferro dos hemingways espremidos nas poltronas dos modernos 777-300 da united.

(trechos do conto "Desterro", escrito em 2005 e ainda inédito)

Nenhum comentário: