quarta-feira, 5 de março de 2008

um texto de 2000

Obra de Paulo Mendes Campos une 'marginais' crônica e futebol
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Na família da literatura, a crônica é prima pobre do conto, filha bastarda do romance, amante bissexta da poesia e irmã do jornalismo.
Tem a crônica um hábito que muito irrita os literatos, o de fincar pé no dia-a-dia, nos aspectos comezinhos da vida.
De seu lado, dentro do mundo das coisas sem importância, o futebol _alguém já disse_ é a mais importante delas. Ocupa lugar secundário no jornalismo.
Mas é o futebol capaz de provocar CPIs, como se sabe hoje, calar um país, como se viu em 1950, e nos comover com um drible aplicado por um homem de pernas tortas.
Em "O Gol é Necessário", que a editora Civilização Brasileira fez chegar este mês às livrarias, Paulo Mendes Campos (1922-1991), escritor e poeta nascido em Belo Horizonte, carioca de coração e botafoguense acima de todas as coisas, promove um delicioso encontro entre esses "marginais", futebol e crônica.
Pertencente à Geração de 45, que fez escola na literatura brasileira e contou com nomes do quilate do poeta Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos nunca foi um cronista esportivo.
Talvez por isso seu olhar seja tão oportuno para revelar o detalhe que se esconde por trás dos resultados e dos esquemas táticos dos times.
Escritas para revistas e jornais em um período _anos 50, 60 e 70_ em que o futebol era mais amador e apaixonado, as crônicas antecipam discussões que se tornariam célebres neste final de século.
A que dá nome ao livro, por exemplo, é um manifesto contra a retranca, o defensivismo e o futebol de resultados que hoje predominam nos gramados.
Não há como negar, porém, que a relação estreita entre a crônica e o factual compromete aspectos da obra.
Tivesse escrito neste ano uma das melhores crônicas de "O Gol é Necessário", a que descreve seu amor pelo Botafogo, Paulo Mendes Campos talvez suprimisse o trecho:
"O Botafogo é capaz de quebrar lanças por um companheiro injustiçado pela federação; eu aguardo a azagaia de uma justiça geral".
No ano passado, o Botafogo, hoje dirigido por outros homens, se utilizou do tapetão para prejudicar o nanico Gama. São erros e acertos de quem viveu e descreveu sua época de maneira intensa. Assim também se faz literatura.

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