sexta-feira, 28 de março de 2008

purificções/olhos de motordrive

A viagem ao Rio é uma idéia da mulher, sob o argumento de que adoraria passear com ele de mãos dadas no calçadão. Os dois ficam hospedados no Leblon, exigência do homem (ou dela?), um profundo conhecedor dos modos e das histórias da zona sul carioca, mesmo sem nunca ter saído de São Paulo antes.
À noite, de volta do Baixo Gávea, ela desliga o ar-condicionado do quarto.
_Quero guardar comigo o calor do seu corpo_, justifica.
O homem pensa que aquela é uma forma elegante, apesar de clichê, de anunciar uma despedida. Mas se cala. Decide apenas que não concordará em apagar a luz. Inútil. Ela também exige claridade. Desde menina, imagina ter uma câmera embutida nos olhos, um jogo de lentes que capta as imagens devidamente enquadradas e congeladas por seus cílios longos e tremelicosos, em uma infinidade de cliques que deixaria impressionado o mais rápido dos fotógrafos.
Os dois suam uma noite. Um longo silêncio (na verdade mais de 24 horas) se segue até ela cortar a melancolia da segunda-feira ensolarada. Quando o avião faz a curva sobre a baía, a mulher contempla o azul, registra as últimas imagens daquele álbum e anuncia:
_Vou morar em um lugar que tem mar.
_Rio?
_Marselha.

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