quarta-feira, 7 de maio de 2008

ato final

Ela cogita tomar outro banho para se livrar de vez do cheiro daquele hotel, mas fica horas estirada no sofá, entre cochilos e piscadelas para a TV, controle remoto nas mãos.
_Que descuido meu. Molhei você inteiro.
_Tudo bem, o meu martini continua seco. My name is James_, responde o velho Bond, taça na mão, à vilã de biquini.
A mulher se lembra que o agente, contrariando a receita original, substitui o gim pela vodka para preparar a bebida. Em outros tempos, acharia aquilo mais um tópico de cultura inútil adquirido com alguém que passou por sua vida. Mas sorri, com a amostra grátis de uma saudade que ainda cobrará seu preço.
_Quando eu voltar, mesmo que isso aconteça daqui a 30 anos, ainda te amarei. Um dia, estaremos juntos, prometo_, diz o canastrão brasileiro em outro canal.
Zigue-zague, a mulher arrasta a coberta agarrada às costas até a cama. O manto vai ao chão em frente ao oratório barroco onde uma Nossa Senhora Desatadora dos Nós está acompanhada de um hindu em posição de lótus. Ela se atira. Na queda, inicia a contagem regressiva: trinta anos, trinta meses, trinta semanas, trinta dias, trinta minutos, trinta segundos. Tenta se levantar e registrar alguns pensamentos. Novamente lhe faltam forças e ela adormece acreditando que os amores irrealizáveis são eternos e à prova de críticas, como a literatura nunca escrita, as telas nunca pintadas. De qualquer modo, no vôo até Marselha, terá muitas horas para fazer anotações e anexar novas frases à sua coleção. O marido-empresário está a sua espera.

3 comentários:

Isa disse...

Gostei do seu post no meu blog. Sumido! beijos

beto bombig disse...

Isa,

tô torcendo pela recuperação da sua irmã. Faz tempo mesmo que não vejo você aí do Estadão. Infelizmente, não pude ir no aniversário do Bovo.
bjo

beto bombig disse...

Estou torcendo pela recuperação da sua irmã. Faz tempo mesmo que não cruzo o pessoal aí do Estadão. Infelizmente não pude ir ao aniversário do Bovo.
bjo