quinta-feira, 3 de abril de 2008

purificções/a conferência 2

o sol que persiste mesmo dentro do teatro, os dentes muito brancos, a expectativa da platéia espremida, as mãos grossas e pretas que não cessam de apertar o trompete na cabeça de simone. mesmo quando jean-paul fala, naquela cidade de nome esquisito e muito comprido, naquele país de nome pequeno, mas que é um continente, como gostam de dizer seus habitantes, ela pensa em Davis. walkin, simone, walkin. e jean-paul daquele jeito estranho que ele tem de falar para uma platéia fissurada na coisa ininteligível da filosofia existencialista, em um país jovem e tropical que vive um momento de otimismo revolucionário e de estabilidade política e se propõe a ouvir com entusiasmo quase pueril as reflexões sobre o marxismo e a question de méthode. e jean-paul olhando a moça na segunda fila, exalando o suor doce de perfume francês e a sensualidade que rasga o coração da américa e alinhava a música do continente, a música de milles. simone bufa (daquele jeito classudo que os só os franceses sabem; um pbufff baixinho, quase imperceptível que apenas o pequeno mosquito-pólvora que sobrevoa a boca e as narinas dela é capaz de perceber). simone abaixa a cabeça.

a luz que não deixa edson enxergar direito a bola após pepe disparar um canhão da esquerda até o centro da área. a poça de suor explodindo, e a cabeça de edson zunindo muito, a testa marcada pela costura dos gomos de couro. caralho, como chuta forte esse cara, se eu consigo pegar de jeito, tinha furado a rede, um milímetro mais para baixo na minha testa, mas foi longe, hoje vai ser difícil. edson ainda meio tonto trotando até o meio-campo, parado, de novo acenando as mãos pretas, de novo as mãos pretas na cintura, os dentes brancos. tem que tocar de primeira, de prima pagão, parecia até as loiras da suécia em 58, mas eu era muito cabaço naquela copa e não aproveitei do jeito que eu devia, não, assim não, de prima pagão, não disse, olha lá, cada peitão, esquece, pelé, se concentra no que você está fazendo, caralho, eu tô zonzo, por que esta merda de tempo está passando tão rápido? como era mesmo o nome da loira? olha lá, outro gol dos caras, puta merda, azar.

Um comentário:

Tudo al dente disse...

olá bibi e Beto, tenho vindo aqui frequentemente para acompanhar estes textos bacanas deste blog
:)
td bem com vcs?